Se no Planet Hemp ele parecia ser mais um coadjuvante, quando todos os holofotes da mídia apontavam para Marcelo D2, em carreira solo o rapper carioca B Negão encontrou o espaço que precisava para dar vazão ao seu talento e criatividade.
E com toda sua experiência musical acumulada em suas passagens por grupos de propostas tão diferentes, como o PH, Funk Fuckers e Turbo Trio, em 2003 lançou o seu álbum de estreia, Enxugando o gelo, um trabalho primoroso, apresentando uma banda de apoio bastante segura, Os seletores de frequência, que fazem a cama para B Negão deitar e rolar sobre diferentes estilos, indo do Funk setentista, ao Hip Hop, do Rap ao Reggae, do Dub ao Afrobeat e outras experimentações sonoras.
Agora ele volta com seu segundo registro de estúdio, Sintoniza Lá, aprimorando ainda mais suas influências em cada uma das 11 faixas, com total liberdade para se apropriar das várias vertentes da Black Music, seja ela americana, jamaicana ou brasileira. Como ele diz, tudo teve origem na África.
Em Alteração (ÉA!) ele manda seu recado, com um discurso que exalta a liberdade de pensamento, pontuado pelo naipe de metais, fundindo o cerebral com o dançante, uma mistura recorrente nas faixas seguintes.
E com um discurso afiado ele vai discorrendo sobre as tensões do mundo atual em O Mundo (Panela de Pressão) e Reação (Panela II), a primeira mais funkeada e a segunda mais regueira.
A porção Tim Maia fase Racional (Frequentemente homenageado por B Negão em shows tributos com o Instituto) dá as caras em Proceder/Caminhar, com uma mensagem positiva e de conscientização que remete aos tempos em que o síndico pregava suas crenças no Universo em desencanto.
Essa é pra tocar no baile tenta elevar o groove, balançar as massas nos shows com seu apelo dançante, enquanto que Subconsciente é uma paulada instrumental que lembra as incursões do Planet Hemp no hardcore.
A faixa título merece destaque por colocar o Dub na ordem do dia, em um instrumental esfumaçado e inebriante, com uma letra igualmente viajante, numa verdadeira celebração cannabística, para não perder o hábito...
Um disco classudo, que rola suave do começo ao fim e desde já merece um lugar entre os melhores lançamentos de 2012.
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