É muita responsa escrever sobre Efêmera, o álbum de estréia de Tulipa Ruiz, talvez por ser um dos lançamentos mais aguardados e instigantes do ano.
Tulipa é uma cantora bem conhecida na badalada cena paulistana, sempre presente em shows de outros artistas, em participações em que fatalmente acaba roubando a cena, muito por conta de seu carisma e, é claro, por sua voz encantadora.
Ela consegue fazer o que bem quer com sua voz, mas ao contrário da maioria das novas cantoras aspirantes a “diva”, que proliferaram na música brasileira ultimamente, canta sem afetações, sem apelar a malabarismos vocais para querer impressionar, deixando que seu belo timbre de voz flua com naturalidade, priorizando a canção.
O resultado é uma agradável experiência musical, em 11 faixas que exalam um frescor pop com canções de fácil assimilação, embora bem estruturadas, com arranjos elaborados e referências tropicalistas, sem soar retrô, graças à produção de Gustavo Ruiz, que imprimiu uma sonoridade contemporânea ao disco.
“Efêmera” é a faixa de abertura e já conquista de primeira, com a beleza de seus versos e uma melodia envolvente, um bolero que passou por um upgrade e ganhou contornos mais modernos.
Em “Pontual”(ouça no player abaixo), sua veia pop é acentuada e a letra tira onda com o próprio atraso para uma sessão de cinema, uma das canções mais grudentas (no bom sentido) do disco.
Na comovente “Do amor”, Tulipa brinda o ouvinte com todo seu virtuosismo vocal, esbanjando talento e uma sensibilidade ímpar. Começa bem sutil, vai se encorpando aos poucos, criando uma progressão que se intensifica até sua voz envolver tudo, por completo, para finalmente se dispersar vagarosamente, restando apenas o silêncio no final... De arrepiar!
“Pedrinho” é um dos grandes momentos do disco, com sua letra de tom lúdico, mas com uma malícia mal dissimulada, enquanto a música apresenta arranjos intrincados, cheios de experimentações, que vão se revelando aos poucos, em audições mais atentas.
Vale ainda destacar “A ordem das árvores”, onde há predominância de climas setentistas, que remetem a Gal Costa, quando ela era uma das cantoras mais relevantes daquela época, e “Só sei dançar com você”, faixa que fecha o álbum em grande estilo, na qual faz um belo dueto com Zé Pi (Druques).
Muito bem acompanhada por uma banda consistente, composta por seu irmão Gustavo Ruiz no violão e baixo, participações de Luiz Chagas, seu pai, guitarrista da cultuada banda Isca de polícia, que acompanhava Itamar Assumpção. Completam a formação Dudu Tsuda (piano), Duani (bateria) e Márcio Arantes (baixo e ukelele)
Participações de vários nomes que estão despontando na atual cena emepebística, como as cantoras Céu, Thalma de Freitas, Anelis Assumpção, Tiê, Mariana Aydar, Iara Rennó e Juliana Kehl; do pianista Donatinho, do baterista e percussionista Stéphane San Juan (Orquestra Imperial), de Kassin , Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro) e Leo Cavalcanti, enriquecem este debut e contribuem para colocar Tulipa como uma forte candidata a revelação do ano, com uma carreira promissora pela frente, que se depender de seu talento, não será efêmera, será muito duradoura.
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