Como já é costume aqui no Miscelânea Pop, sempre tem algum álbum que merecia estar na lista dos melhores do ano, mas que acabou não entrando porque o autor aqui não conseguiu ouvi-lo a tempo.
Então, faço aqui um mea culpa, e para me redimir deste atraso, aqui vai uma resenha sobre o sensacional primeiro álbum completo Do Amor.
Ao ter o meu primeiro contato com o álbum de estréia da banda carioca Do Amor, confesso que fui tomado por uma sensação de confusão e surpresa. Isto porque eu não consegui entender qual era a onda deles logo na primeira audição.
Tudo o que eu sabia sobre eles era que alguns de seus integrantes já tocaram com Caetano Veloso, Los Hermanos e outros nomes que despontaram na nova música brasileira.
Ou seja, são músicos experientes e capazes de promover uma verdadeira miscelânea sonora, que já eram bem conhecidos no cenário independente antes mesmo de lançarem seu primeiro disco.
Em algum momento eu ouvi “Pepeu baixou em mim”, uma de suas mais músicas mais sensacionais, mas que não me chamou muito a atenção na ocasião, talvez por ser uma canção que isoladamente não dá a verdadeira noção do que estes caras são capazes.
Só mesmo ouvindo o álbum inteiro é que fiquei surpreso. Uma música é completamente diferente da outra, com uma riqueza e diversidade de ritmos que impressiona, tudo com a produção requintada de Chico Neves (Lenine, Skank, O Rappa)
E o álbum começa com “Vem me dar”, com sua levada de violão que lembra Novos Baianos, onde a banda expõe toda sua veia emepebista e termina com solos de guitarra baiana, no melhor estilo de Armandinho.
Em seguida vem “Chalé”, um excitante Indie Rock, com riffs de guitarras que costuram toda a música, que destoa completamente da faixa anterior. Aliás, o rock é a essência no som Do Amor, mas isso não os impede de incorporar outros estilos genuinamente brasileiros em sua música. Esse é o grande barato deles.
Na introdução de “Morena russa”, a impressão que se tem é que a qualquer momento Jorge Ben vai entrar cantando. É um samba-rock classudo que não faria feio frente aos maiores expoentes do gênero.
Nas roqueiras “Shop chop”, “Dar uma banda” e “I picture myself” eles exibem um instrumental vigoroso, apesar do clima de total descontração por conta dos vocais esculhambados e letras descompromissadas.
O dub dá as caras na enfumaçada “Brainy Dayz”, enquanto “Perdizes” tenta ressuscitar a lambada, aditivada por riffs de guitarra no refrão. “Isso é carimbó” se encarrega de apresentar o tradicional ritmo paraense às novas gerações.
Mas a coisa não para por aí...A MPB de vanguarda aparece em “Homem bicho” (ouça no player abaixo), uma das faixas mais empolgantes do álbum, juntamente com a balada pop “Meu corpo ali”. Tem ainda o Pós-Punk com sotaque brazuca de “Exploit” e uma inusitada regravação de “O lindo lago do amor”, de Gonzaguinha, que tem tudo para desagradar os fãs do filho do rei do baião e aos puristas da MPB, com seus vocais intencionalmente irritantes, mas em contrapartida pode agradar o público mais alternativo, que sabe apreciar versões bizarras e outras estranhices.
Assim é a banda Do Amor, fazem tudo soar com muita espontaneidade, e não há limites nem fronteiras em sua música. Eles parecem não se levar muito a sério, embora sejam instrumentistas competentes e com versatilidade suficiente para criar canções que se situem em algum lugar entre o popular e o alternativo, entre o sofisticado e o caricato.
Excelente matéria, curti muito o som!
ResponderExcluirabraço!