A formação atual do Cérebro Eletrônico |
Deus e o Diabo no liquidificador é o terceiro álbum do grupo paulistano Cérebro Eletrônico, sucessor do elogiado Pareço Moderno (2008) e vem sendo divulgado de maneira criativa na internet, no hot site que a banda criou para anunciar as novidades sobre as gravações, atiçando a curiosidade dos fãs com versões “caseiras” de suas músicas novas.
Depois, promoveram via Twitter um esquema tipo promoção relâmpago, disponibilizando o novo álbum para audição em streaming em seu site oficial, durante um curto período antes do lançamento oficial, para logo em seguida ser retirado.
Pois é, os caras estão usando bem as estratégias de marketing que a Internet proporciona. Mas agora que Deus e o Diabo no Liquidificador já foi lançado oficialmente e pode ser ouvido na íntegra no site da banda, vamos logo ao que interessa: Este é o melhor trabalho dos caras.
Se no antecessor a banda já demonstrava uma evolução natural que trazia um sopro de renovação na atual cena emepebística, reverenciando artistas que ousaram subverter o cenário da música brasileira nos anos 70, como Tom Zé, Raul Seixas e Sérgio Sampaio, aqui a coisa vai além, ampliando ainda mais seu vasto leque de influências.
Capitaneados por Tatá Aeroplano, autor da maioria das músicas, o Cérebro Eletrônico está com nova formação, agora com Renato Cortez (Seychelles) no baixo e com Fernando TRZ nos teclados, que já chegaram mostrando bons serviços.
Decência é a faixa que se encarrega de abrir o álbum, com sua levada altamente dançante, uma Disco-Music com bastante guitarra e uma letra irreverente, um mea-culpa de alguém que perdeu as estribeiras e saiu causando com todos que pintaram em sua frente.
Arte da capa, por Tatá Aeroplano |
Na sequência vem Cama, que é a mais bela canção do álbum e desde já pode ser considerada uma das melhores músicas nacionais de 2010, com toda poesia marginal de sua letra e um refrão chicletudo (no bom sentido).
A lisergia dá as caras em O fabuloso destino do Chapeleiro louco, numa alusão ao personagem de “Alice no país das maravilhas”, que começa com emanações psicodélicas e uma narrativa sobre os devaneios de um cara que fumou uma erva poderosa, para depois explodir num refrão saltitante, no melhor estilo Jumbo Elektro.
Os dados estão lançados, traz à tona a faceta séria da banda e um dos versos mais geniais escritos por Tatá: “Enquanto Deus calar a boca / eu uso meu livre arbítrio / Deus é mais / O Diabo é menos/ O homem é mais ou menos”
Hélio Flanders (Vanguart) empresta sua voz em Garota estereótipo, sobre os tipos clichês que circulam pela região do baixo Augusta.
220V é um dos pontos altos do disco, que revisita o mangue-beat e faz uma analogia sarcástica entre um casal moderno e eletrodomésticos.
A carnavalesca Desestabelecerei pega carona no Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar, em que Tatá brinca com as possibilidades de um controle remoto enquanto a música vai se encorpando com guitarras em primeiro plano, para no final tudo ser completamente consumido por ambientações eletrônicas.
Em Desquite esbanjam aquela fanfarronice e alto astral que remete aos Novos Baianos, pura curtição.
E assim, a polaridade de Deus e o Diabo vai tomando forma no álbum, entre canções mais agitadas e outras mais poéticas e introspectivas, mesclando vários elementos, o antigo e o novo, batidos no liquidificador sonoro do Cérebro Eletrônico.
Se existe algum tabu em relação ao terceiro disco, no qual muitas bandas sucumbem diante do esgotamento criativo, o Cérebro Eletrônico parece nem ter tomado conhecimento disso. É uma verdadeira usina de criatividade, que sabe se reinventar e usar as boas influências do passado para fazer algo atual. Como dizia Chico Science, “modernizar o passado é uma evolução musical”.
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