Quando ouvi pela primeira vez o Lestics, tive a impressão de que era apenas um projeto paralelo de Olavo Rocha e Umberto Serpieri do Gianoukas Papoulas, fazendo uma incursão no terreno do folk rock, com canções semi-acústicas.
Mas seus dois álbuns virtuais 9 sonhos e Lestics esbanjam tamanha beleza nos arranjos e nas composições, que me impressionaram pela maneira despretensiosa com que eles foram concebidos: Com o Umberto tocando todos os instrumentos no estúdio, dividindo os vocais com o Olavo.
Em seu terceiro disco, intitulado Hoje, já disponível para ser baixado na íntegra no site da banda www.lestics.com.br, também há nove faixas, assim como nos anteriores, mas desta vez apresenta uma novidade: O Lestics não é mais apenas um duo de estúdio, é um quinteto. Ganharam o reforço do baixista Marcelo Patu, do baterista Felipe Duarte e mais um guitarrista, o Lirinha (não confundam com aquele do Cordel do Fogo encantado).
Com o novo formato de banda, o Lestics ganhou um som mais encorpado, sem abrir mão da simplicidade que é a sua marca registrada. Não há longos solos de guitarra, a bateria é discreta, porém eficiente, não há exibicionismos vocais. Isso coloca em evidência o sentimento de cada canção e cria paisagens sonoras que evocam Cat Stevens ou ainda Crosby Stills Nash & Young.
Olavo se afirma como um dos melhores compositores da atual cena independente. Uma espécie de cronista ou um trovador moderno, que nutre seus textos com interessantes estórias e dramas, dá vida a personagens fictícios que guardam muitas semelhanças com pessoas reais, lançando um olhar atento e irônico sobre as coisas simples do cotidiano.
Esse talento para a dramaturgia fica evidente em Plano de Fuga, que abre magistralmente o disco, e narra um frustrado plano que tinha tudo para dar certo, mas que acaba dando errado.
Basta ouvir Mania de organização, para logo identificarmos alguém que conhecemos , através da riqueza de detalhes que o personagem é descrito, formando uma cena na mente do ouvinte, como no roteiro de um filme.
O drama de sentir o peso da idade e as inconveniências do envelhecimento está na comovente Velho, uma verdadeira pérola acústica, levada ao violão, voz e uma sutil percussão.
À espera de um fantasma, uma das minhas faixas preferidas, tem uma letra poética que encanta pela beleza de seus versos.
Hoje é um disco carregado de sensibilidade, para ser apreciado em sua plenitude, sem pressa, repetidas vezes, apreciando as letras inteligentes, o instrumental enxuto, mas refinado e descobrir a sutileza dos detalhes que ornamentam cada faixa.
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